Home » » Dois países em um só coração

Dois países em um só coração


Entre as lembranças que Strey trouxe da Alemanha está uma bandeira
que ganhou na despedida, com mensagens dos colegas e da família que ficou por lá

Ele tinha dois anos quando saiu da Alemanha e veio para o Brasil pela primeira vez. Com vários parentes no país, Andreas Strey, viajava cerca de 10 mil quilômetros nas férias da escola para visitar os tios. E não ficava pouco tempo não. Eram seis semanas, as férias inteiras, diga-se de passagem. Em 2005 a viajem para o Brasil foi ainda mais especial. Foi nesse ano que Strey conheceu a Brigite Hasse, na Cervejaria Hindenburg, em Rio do Sul.

Brigite era garçonete no estabelecimento e fala alemão muito bem. Após algumas conversas virtuais os dois começaram a namorar, mas foi somente em maio do ano passado que Strey veio para o Brasil definitivamente.

Além do amor pela companheira outro motivo que fez Strey vir morar no Brasil foi as baixas temperaturas que precisava enfrentar na Alemanha, lá ele morava na Bavieira, onde mais da metade do ano é inverno. Mas o Alemão naturalizado brasileiro diz que o frio daqui é pior “Aqui nunca fica quente, na Alemanha a estrutura das casas são preparadas para o inverno”.

O processo de desvinculação com a Alemanha foi um pouco demorado e, aqui no Brasil, deixar toda a documentação em dia também exigiu muita paciência. Além disso, o casal teve que lidar com o preconceito da população, já que consideram Strey “louco” por trocar a Alemanha pelo Brasil e afirmam que Brigite “deu o golpe”.

Outra dificuldade foi a transferência da CNH, durante 6 meses ele não pôde dirigir e para validar a carteira de motorista da Alemanha para o Brasil ele precisa passar pelo teste psicotécnico. “Como um estrangeiro vai passar nesse teste?” questiona Briguite. O casal então pretende esperar mais três anos até Strey se habituar no país. Mas isso não foi motivo para que o casal desistisse da união. Atualmente eles moram no Fundo Canos, em Rio do Sul, e sofrem com a precariedade da estrada até a residência. Além disso, quatro meses após a mudança a casa continua sem energia elétrica e água encanada. Prova de que o amor supera todas as dificuldades.

Entre as lembranças que ele trouxe do país está uma bandeira que ganhou na despedida, nela mensagens em alemão em também em português dos colegas e da família que ficou por lá.




Mudanças

É claro que, assim como todo estrangeiro, Strey teve que se adaptar a rotina daqui. Antes de conhecer a Brigite o alemão não tomava café, somente chá. Hoje é bem diferente. Para se ter uma ideia, foram quatro xícaras de café durante a entrevista.

Outro dilema é com o carrinho do supermercado. Na Alemanha os clientes pagavam para usar o carrinho e, após usar, devolvia-o e recebia o dinheiro de volta.

“Ainda hoje eu tenho que gritar com ele no estacionamento do mercado, quando eu vejo ele está voltando para colocar o carrinho no lugar”, conta Brigite.

A profissão continuou a mesma: pintor, mas os matérias e métodos de pintura mudaram. De acordo com Brigite, no início foi bem difícil até conseguir um cliente. Os horários de trabalho também é diferente. Na Alemanha Strey trabalhava 38 horas por semana, enquanto no Brasil ele está trabalhando até nos sábado e domingo.

Quando o assunto é segurança e educação, o casal conta que na Alemanha é bem diferente. O aluno que está na 7ª série, por exemplo, já decide qual profissão quer seguir e começa um curso técnico na própria escola. 

No ano passado Strey passou pela primeira enchente já morando no Brasil, ele contou que onde morava na Alemanha a casa ficava entre um rio e um canal, acontecia de ficar ilhado, mas é raro entrar água nas casas, além disso as moradias possuem um sótão onde essa água fica armazenada e com bombas logo é eliminada.

Na cozinha Brigite tenta fazer alguns pratos típicos da cultura alemã. O único alimento que o Alemão sente falta é a cuca com raspas de rabarba. “Eu já procurei essa tal de rabarba por tudo e não achei. Não faço ideia do que pode ser, mas ele sempre fala dessa cuca que a oma dele fazia”, brinca a conjunge.
SHARE

About Anônimo